sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Uma espera...

Era tarde de uma dia qualquer ensolarado. A cidade estava deserta de pessoas conhecidas e o dinheiro assemelhava-se ao vento em seu bolso. Havia muito o que fazer, mas nada que se gostasse. Haviam livros e livros e milhoes de provas a serem feitas. O telefone não tocava e um amor próprio, desses que deveria ser vendido em camelô, insistia em não ser lá tão forte, muito embora o orgulho ainda existisse em sua mais frágil forma. O maldito telefone não tocava e a angústia tomava conta.
O dia ia passando devagar e, enquanto lá fora milhões de promessas tornavam-se fatos, dentro daquele apartamento o tempo brincava de não passar.
No meio de tudo isso - que nem pode ser considerado como muita coisa - aconteceu algo inesperado. No momento em que não se ouviu nenhuma buzina estranha do lado de fora, o calor insuportável neutralizou-se por um minuto. Lembranças chegaram como um turbilhão. Sensaçoes tomaram novamente seus lugares, mas não demoraram o tempo admitido no momento em que foram consequencias de ações. Era como lembrar de sensaçoes, fossem elas ruins e boas. Estava acontecendo, e ela nao esperava que fosse ser assim.
Não houve desgaste. Palavras não precisaram ser pronunciadas. Não era um Adeus formal. A imagem lembrada todos as horas como algo sagrado, assemelhou-se à lembrança de quaquer coisa simples e sem tantos atrativos. Era o sentimento. O coraçao não disparava mais ao olhar fotos e ouvir a 'música tema'. Agora ela poderia dizer um 'não'sem pensar duas vezes e meia e os seus braços completavam-se sozinhos, sem necessidade daqueles que tanta falta já fizeram. O seu corpo tinha voltado a ser só seu e já poderia pensar em seguir qualquer rota sozinha.
Sim, havia acontecido. O sentimento, aquele mais que eterno sentimento de todos os dias, tinha ido embora. Sem mágoas. Sem lágrimas. Sem nada. Apenas já não existia. O último sopro tinha sido dado e ela nem imaginou que fosse ser num dia qualquer, numa hora qualquer sem importância.
A angústia foi embora, as pessoas conhecidas puderam se reaproximar e mostrar que estavam sempre alí, naquela cidade que ela não se permitia ver como sendo habitada por amigos. E os seus planos. Ah, os seus planos foram voltando pouco há pouco e aí, num momento qualquer, pois não era mais tão esperado, ouviu-se o telefone tocar.


E ela não se importava mais em atender.


PS.: O Texto foi escrito a um certo tempo, de modo que não corresponde ao que está sendo vivido por mim no momento. :)