terça-feira, 19 de janeiro de 2010

E eis que me declaro...


Você já apontou pra alguém e pensou: É ele! Eu quero que seja e será!?
Pois então, eu fiz isso. Tive a sorte de poder fazer. Sim, por que não é tão facil o querer, o sentir vontade de apontar pra'quele alguém e escolhê-lo.
Não venho com essa história de cara metade ou alma gêmea. Isso é tão clichê. E é mesmo. Falo do desejo de dividir com uma pessoa todo o seu mundo e tudo de bom que há nele. Da vontade de remexer no mais profundo do baú de coisas boas só pra entregar àquele alguém. Falo de dia de chuva abraçados, domingo calmo e em paz, sem qualquer espaço pra desejo de estar em outro lugar que não seja ao lado do outro. De admiração cega, capacidade de compreender um olhar ou só o silêncio no telefone, e às vezes só esse silêncio é necessário. Levo em conta a espera agoniada e abraço mais esperado que tudo. DO querer "estar preso por vontade" (e entender Coríntios 13). Sorrir só de lembrar do sorriso. Fechar os olhos pra tentar chegar perto estando longe, encostar-se no ombro e deixar o tempo passar sem preocupações, porque ali parece ser o lugar mais seguro do mundo. Do simples fato de deixar que sua mão segure firme a mão do outro. De encaixar-se e moldar-se até na maneira de andar, cada um do lado que prefere. Adequar até o seu paladar a esse alguém. Passar a ter a mesma preferência musical e gostar disso. Andar na rua e sentir o cheiro dele mesmo estando longe. Falo de tudo com um gosto de 'quero mais' e, olha só, depois que apontei pra alguém, aprendi tudo isso. E me sinto tão bem por ter escolhido certo.

Acredito...

Acho que foi naquele dia em que nao tinhamos nada pra fazer, ou, talvez, naquela tarde voltando pra casa por alguma rua em que conheciamos todas as paredes manchadas. Talvez até tenha sido naquela manhã em quê, ao acordar, não fomos a primeira lembrança um do outro ou na noite em que não fomos nossos últimos pensamentos antes de adormecer. Nos dias em que caímos no esquecimento por algumas tantas horas. Nas datas em que não nos telefonamos simplesmente por não lembrar de nossas existências.
Penso até que pode ter sido naquela tarde de chuva forte, quando não sentimos a necessidade do abraço ou nos pareceu perfeitamente substituível por qualquer lençol quente e confortável.
Quem sabe não foi naquele convite que não aceitamos, sem pensar uma vez e meia. Na palavra que não demos na hora em que mais era esperada. Ou nas tantas outras que foram ditas nas horas em que eram oportunas, mas completamente desnecessárias por estarem tolhidas de uma aspereza qualquer. Parece que temos um tipo de memória especial onde guardamos essas coisas e os seus efeitos.
No toque esperado e não dado, no abraço que poderia curar, mas não chegou. Naquele sorriso que teria que ser visto pra colorir o dia, a semana e depois ser revisto pra exercer o mesmo papel.
Naquele beijo que foi pedido, mas simplesmente indeferido.
Pode ter sido enquanto eu fechei os olhos e nao quis enxergar nenhuma tentativa de reparação.
Talvez (e tudo aqui é baseado nessa palavra), naquelas vezes em que discutir era preciso, mas parecia tão cansativo que foi protelado e acabou sendo esquecido. Nas palavras que não conseguiram ser ditas e nos olhares que não foram fielmente traduzidos. Na impotência tantas vezes declarada. No Adeus muitas vezes ensaiado, porém, não menos penoso por não ter sido consumado.
Foi na tentativa e não no fato. E continua sendo.
Talvez seja na falta de vontade, ou no excesso dela. Na poesia não lida com a merecida emoção. No choro recolhido ou naquelas lágrimas mostradas e ouvidas.
Pode ter sido em tantas coisas que não conseguem ser lembradas ou que foram esquecidas de propósito. Foi em todos esses "talvez', mas parece reconfortante lidar com a incerteza.
Continua sendo tudo isso, daí chegará o dia em que as discussões serão adiadas pra sempre e a nostalgia tomará conta de todos esses prováveis erros e aí, então, as próximas dúvidas virão e teremos só uma certeza: a de que somos incertos demais um pra o outro e que não existe isso de perder o encanto momentaneamente. Uma vez perdido, será pra sempre e o que resta são apenas retalhos.